O café tornou-se uma bebida universal e muitos consideram que “o dia só começa depois do café”. O café é uma “super-planta” com muitos benefícios físicos e mentais, mas a dependência da civilização moderna torna o café verdadeiramente a mais universal das “drogas legais”. São consumidos globalmente 2 mil milhões de chávenas de café por dia!

 

Na verdade, só há uma forma de ter energia para a vida: comida saudável, bastante água e dormir bem.

 

O café tornou-se sinónimo de combate ao cansaço, estimulante de concentração e melhoria de rendimento físico, sendo até usado em complementos para emagrecer devido à aceleração metabólica. 

 

Contudo, a ideia de que o café “dá energia” é um mito. Na verdade, está apenas a “adiar” a sensação de cansaço. O café “pede emprestado” energia, que teremos que pagar mais cedo ou mais tarde.  O café não elimina o cansaço, apenas adia a sensação de cansaço – podendo por isso gerar um ciclo vicioso de consumo crescente para manter o estado de atenção, mas acabando por prejudicar depois a noite de sono reparador, perpetuando o ciclo de cansaço – café – falta de sono.

 

Na verdade, a principal forma pela qual a cafeina reduz a sensação de cansaço é alterando a forma como as células cerebrais ligam com o químico chamado adenosina. 

 

A adenosina é parte do sistema que regula o ritmo circadiano e o sono. Ao longo do dia, o nível de adenosina vai aumentando, porque é libertado como sub-produto da produção energética nas células. A adenosina liga aos receptores no cérebro, causando sensação de fadiga e sono. Durante o sono, a adenosina é limpa do organismo e acordamos revigorados. 

 

As moléculas de cafeina tem formato semelhante à adenosina e por isso podem ligar-se aos receptores de adenosina no cérebro, reduzindo os receptores livres para ligar à adenosina e desse modo “enganando” a sensação de cansaço por umas horas.  

Isto significa que a adenosina continua a acumular no cérebro, sem induzir o descanso e sono necessários para a expelir. Quando os efeitos da cafeína passam, o volume de adenosina pronta para ligar aos receptores cerebrais é maior, o que provoca uma sensação de cansaço amplificada – se não pararmos este ciclo, continuando a tentar manter a energia à custa de café, o efeito de cansaço é exponencial. Estamos a enganar o corpo, mas o cansaço regressa para se vingar.

 

Demora 6 a 12 horas a metabolizar completamente a cafeina… portanto aquele café ou red bull cheio de cafeina antes de ir ao ginásio ao fim da tarde, pode melhorar a performance momentânea, mas vai perturbar o sono e induzir um ciclo vicioso de cansaço – cafeina – cansaço.

Se coloca açúcar no café (ou bebidas energéticas com cafeina e açúcar), o efeito de pico e queda energética é ainda maior. O açúcar causa um pico de energia momentâneo, mas aumenta a insulina no sangue que depois origina uma quebra energética – levando o corpo a “pedir mais” combustível fácil para queimar.

 

O café pode assim prejudicar o controlo de peso por duas vias: diretamente, gerando uma sensação de cansaço e falta de energia umas horas depois do seu efeito levando o organismo a procurar fontes fáceis de calorias; e perturbando o sono, que é um poderoso controlador de peso por via das hormonas leptina e grelina que controlam a sensação de saciedade e fome.

 

O café é uma “super-planta” com propriedades benéficas para o bem-estar físico e mental. Tem propriedades anti-oxidantes, regulando o envelhecimento celular. O consumo moderado de café pode reduzir o risco de diabetes tipo 2, doenças neurodegenerativas, mantém a pressão arterial, pode evitar obstrução coronária, e pode ajudar a controlar o colesterol. 

O café é um estimulante e eleva a pressão arterial, mas não é um hipertensor, não sendo associado ao desenvolvimento da hipertensão.

O café tem características psico-ativas e estimula o metabolismo, contribuindo assim para a atenção e performance física.

A borra de café é excelente para adubar as plantas precisamente pelo seu valor nutritivo.

O pó de café é também usado em tratamentos faciais de beleza da pele, pelo seu efeito esfoliante e de renovação das células mortas.

Além disso, um bom café é reconfortante e propicia momentos de prazer. 

 

Em síntese, os principais benefícios do café podem ser resumidos assim:

1. Estimulação cerebral: a cafeína bloqueia a adenosina nos receptores cerebrais e reduz a sensação de cansaço, mantendo a atenção e alerta

2. Prevenção de Alzheimer: Alguns estudos sugerem que o café potencia a memória, podendo proteger de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer

3. Melhoria de performance física e queima de gordura: o café acelera o metabolismo, podendo por isso melhorar a atividade física e ajudar a queimar gordura, desde que combinado com atividade física

4. Beleza e juventude: o café protege dos radicais livres que causam envelhecimento precoce da pele, além de auxiliar na firmeza e suavidade da pele

5. Prevenção de doenças do coração: em moderação, o café pode ajudar a diminuir as probabilidades de enfarte, estimulando a pressão arterial e evitando bloqueios nas artérias

6. Efeito detox: o café tem propriedades diuréticas e laxantes

 

A cafeina tem um efeito prolongado no organismo e os seus efeitos prolongam-se por 6 a 12 horas, pelo que para evitar perturbar o sono, devemos restringir o consumo de café a 2-3 chávenas por dia e nunca depois das 15h.

Principais desvantagens do café:

1. Ansiedade e stress: O café em excesso é um estimulante nervoso, causando stress, tremores das mãos, irritabilidade e pode até causar ataque de pânico

2. Desidratação: as propriedades diuréticas da cafeína podem provocar desidratação, se consumido em excesso. 

3. Viciante: o café gera dependência e pode originar sintomas de síndrome de abstinência, como dores de cabeça, dificuldade de concentração e rigidez muscular. 

4. Úlceras gástricas: a acidez do café pode acentuar a dor e agravar problemas de úlceras gástricas